Como um jogo de videogame me fez aprender sobre filosofia

Como um jogo de videogame me fez aprender sobre filosofia

Sou muito fã de jogos de RPG e da série “Final Fantasy”. Um belo dia recebi um email do Humble Bundle com um bundle de livros que incluía o Final Fantasy and Philosophy. Minha primeira reação foi WAT!? Mas depois pensei “por que não?”, na melhor das hipóteses aprendo algo novo, na pior eu perco 1-2 horas da minha vida ?‍♂️

Spoiler: não perdi tempo algum, aprendi algumas coisas bem interessantes lendo esse livro e não só relacionadas a filosofia! Neste post vou falar de apenas duas delas.

Game design

Ensinar game design não é a intenção do livro, em momento algum eles usam o termo, “game design”. Os autores falam sobre alguns conceitos de filosofia mas, neste capítulo, o mais interessante foi aprender sobre como certas mecânicas e decisões de game design ajudam o jogador a “entrar mais no mundinho do jogo”.

Em alguns gêneros de jogos, principalmente em RPGs, é importante permitir que o jogador personalize os personagens que ele irá controlar. Essas customizações do “boneco” ou da roupinha, não são apenas firulas. Elas ajudam o jogador a se identificar com o personagem ou a sentir como se fosse parte da história, seja fazendo o personagem reagir segundo os valores morais do jogador ou da interpretação que o jogador tem do personagem.

Outra mecânica abordada é a de permitir que o jogador tome decisões em nome dos personagens, dentro da história do jogo. Permitindo que eu crie a minha própria versão do “Cayo-Cloud” do personagem principal de Final Fantasy VII.

Este capítulo também aborda o que acontece com jogos que possuem múltiplos personagens principais, onde os jogadores escolhem quando irão usar cada um e quais utilizarão. Outro tópico bem interessante pra fãs de RPGs.

Só esse primeiro capítulo já fez valer os poucos dólares que me custou o bundle inteiro de livros!

O conceito de “bem” e do “mal”

O segundo capítulo explodiu minha cabeça! Foi uma descoberta tão incrível que me fez perder o preconceito que tinha com filosofia. Preconceito que não sei de onde veio mas era claramente baseado na falta de conhecimento sobre o assunto ?‍♂️

Nietzsche, em seu livro sobre a genealogia da moralidade, fala sobre dois sentidos diferentes da palavra “good”; uma no sentido de “superior” (good/bad, bom/ruim) e outra no sentido moral (good/evil, bem/mal).

Na idade média, quando o mundo estava dividido claramente entre os nobres, a classe aristocrática, e a classe dos reles trabalhadores, o termo “good” era usado pela nobreza para se referir a eles mesmos. Somente eles eram afortunados de serem dotados de força, riqueza e inteligência.

Os outros eram “bad” somente no sentido de não serem “good”. Os membros das classes trabalhadoras eram considerados “piores” apenas quando comparados aos nobres, da mesma forma que podemos chamar de “ruim” um celular Nokia tijolão ao compara-lo com um iPhone. Eles eram inferiores, porém não eram moralmente ruins.

Após comparações com o vilão Kefka de Final Fantasy VI, o livro nos questiona “what is evil?”. E Nietzsche, em seu estudo, mostra que com o passar do tempo, especialmente após o crescimento do Cristianismo, as classes mais baixas começaram a se ressentir de serem vistas com piedade e de serem abusadas pela nobreza.

Os oprimidos então começaram uma mudança gradual no sentido da palavra “good”. Ao invés de significar o conceito de “superior” ou “eficiente”, o sentido da palavra “good” começou a mudar para o oposto de “evil”!

Tudo o que a nobreza prezava e valorizava, se torna “evil” e “good” vira o oposto. A nobreza tem orgulho, então a humildade é agora desejável. A pobreza é uma bênção, ela gera caráter. Compaixão e altruísmo, sentimentos que não tem utilidade pra nobreza, pelo menos no que diz respeito à classe baixa, tornam-se a pedra angular da vida moral.

Com o tempo, essas idéias tomam conta dos corações e mentes de toda a humanidade e nasce a distinção entre “good” and “evil”, o bem e o mal!

??? minha cabeça explodiu quando li isso!

E não para por aqui

Ainda estou no quarto capítulo deste livro, certamente ainda aprenderei várias outras coisas interessantes! Mas já recomendo fortemente sua leitura: Final Fantasy and Philosophy.

E se você não for fã de RPGs ou de Final Fantasy, os autores possuem outros livros seguindo essa mesma linha:

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